Ao tomar posse amanhã (1º) como ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski terá que se equilibrar numa balança com um peso-pesado da política nacional que é seu velho conhecido, Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Com a Polícia Federal sob sua alçada, o novo ministro lidará com investigações das mais sensíveis sobre figuras que vão do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), alvo mais recente, até o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos. Os inquéritos têm um denominador comum: a relatoria de Moraes no Supremo.
O ministro da Justiça não tem ingerência sobre investigações da PF, mas está hierarquicamente acima da corporação e deve zelar por seu pleno funcionamento.
Dias de alta voltagem na PF
Os últimos dias já serviram para começar a mudar as peças de lugar no tabuleiro. A Polícia Federal deflagrou operação de busca e apreensão em endereços do vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente. As ações foram autorizadas por Moraes.
Lewandowski não se pronunciou publicamente, e mesmo na cúpula da PF não se viram gestos claros do novo ministro em relação às investigações.
A postura que adotou até agora é diferente da de seu antecessor, Flavio Dino, que está prestes a tomar posse como ministro do Supremo.
Dino, enquanto à frente da Justiça, manteve relação próxima com a cúpula da PF, pediu instauração de inquéritos e equilibrava a influência de Alexandre de Moraes sobre a corporação.
Lula pediu que o novo ministro mantivesse o delegado Andrei Rodrigues na direção-geral da PF. Então caberá a Lewandowski encontrar um lugar nessa equação, ou as peças serão mexidas.
Aluno e professor
O choque de estilos não é uma novidade na longeva relação entre Lewandowski e Moraes.
Tudo começou em 1986. Moraes tinha 17 anos e ingressou na graduação da Faculdade de Direito da USP, na turma ímpar do período diurno. Lewandowski, aos 37 anos e com doutorado concluído pela mesma universidade, era auxiliar do professor Dalmo Dallari na disciplina de Teoria Geral do Estado. Por substituir o titular inúmeras vezes em sala, Lewandowski deu aulas a Moraes ao longo daquele ano.
Depois, cada um seguiu o seu caminho.
Moraes se graduou, passou no concurso de promotor do Ministério Público de São Paulo e serviu em municípios do interior até voltar à capital. Fez doutorado e livre-docência na USP. E em 2002, aos 33 anos, foi nomeado secretário de Justiça do governo paulista.
Lewandowski foi conselheiro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), presidente da Emplasa (Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo) e migrou da advocacia para a magistratura. Foi indicado pelo então governador Orestes Quércia ao extinto Tribunal de Alçada Criminal e depois promovido a desembargador no Tribunal de Justiça paulista. Concluiu a livre-docência pela USP e, em 2003, aos 55 anos, decidiu disputar na faculdade a vaga aberta de professor titular, o mais alto posto na carreira docente, na disciplina de Teoria Geral do Estado.
Era a mesma cadeira de Dalmo Dallari, seu mentor à época, que já tinha se aposentado. Lewandowski era o candidato favorito, pelo tempo de casa, currículo e articulação interna.
Mas na reta final apareceu um concorrente ávido. Alexandre de Moraes tinha 34 anos, e, apesar da carreira acadêmica mais curta e de ter sido aluno do candidato favorito, foi para a disputa. A atitude gerou ruídos, mas não deu frutos. Moraes ficou em quarto lugar na banca e Lewandowski, como esperado, foi aprovado.
Amigos em comum trataram de desanuviar o clima na faculdade, onde, a essa altura, ambos davam aulas, e o convívio ficou viável, embora escasso. Até que eles se reencontraram, quase quinze anos depois, em um ambiente absolutamente intenso.
Era 2016. O processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff tinha sido deflagrado, e calhou de Lewandowski ser, naquele tempo, o presidente do Supremo Tribunal Federal. Portanto, a tarefa de conduzir o processo contra Dilma no Senado Federal foi sua.
A população estava inflamada, Brasília pegava fogo. E Lewandowski fugia dos holofotes o quanto podia. Trocava festas e eventos agitados por jantares solitários em cantos de salão de restaurantes discretos.
Numa das sessões finais do
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